Cada tipo de célula no organismo humano tem uma função específica. Para seu bom funcionamento todas as células dependem de uma boa irrigação sanguínea e o consequente transporte de oxigênio e nutrientes.

No processo de envelhecimento há uma diminuição progressiva desse aporte de sangue para os tecidos. As células nervosas, tanto as do sistema nervoso central (cérebro, cerebelo),  quanto as dos orgãos periféricos (as retinas dos olhos, as cócleas dos ouvidos, as máculas dos labirintos …), são as mais sensíveis a essas variações de oxigenação.

Por exemplo, o cérebro de um idoso saudável recebe, proporcionalmente, apenas 30% da irrigação sanguínea de uma criança. E quando existem outros fatores associados, como a carga genética individual, e os que interferem diretamente na microcirculação (stress, hipertensão, diabetes, alterações metabólicas do colesterol, dos triglicerídeos …), a irrigação pode ser ainda menor!

Quando danificadas, as células nervosas não são substituídas por outras células com a mesma característica. Assim, com a diminuição da irrigação, os tecidos nervosos vão perdendo células e, consequentemente, função. É por isso que, com a idade, a memória vai falhando, o raciocínio fica mais lento, a visão e a audição vão caindo, o equilíbrio fica instável, …

Vamos falar especìficamente da audição: na parte mais interna de cada ouvido situa-se a cóclea (ou caracol), onde estão distribuídas milhares de células nervosas, responsáveis por transformar a energia mecânica da vibração do tímpano e dos pequenos ossículos do ouvido médio (martelo, bigorna e estribo) em potenciais elétricos, que são levados aos núcleos auditivos no cérebro pelo nervo cócleo-vestibular. Cada grupo de células é responsável pela percepção de um determinado som (agudo, médio ou grave). Compare com o teclado de um piano.

Havendo diminuição na irrigação sanguínea para o ouvido interno, ocorre perda progressiva da função.As células que representam os sons agudos, situadas na 1a volta do caracol (espira basal da cóclea) e, portanto, situadas mais distantes da microcirculação, são geralmente as primeiras a sofrer as consequências. Assim, o indivíduo com uma queda auditiva para os sons agudos pode não escutar bem alguns sons (campainhas de portas, telefones, interfones, despertadores …) e pode ter problemas para entender o que escuta (baixa discriminação auditiva), já que várias consoantes são interpretadas nessa faixa. Imagine um piano, onde parte está afinada, outra não; qual é a música ?

Havendo continuidade, a faixa da conversação (sons médios) pode ser afetada, influindo decisivamente na vital capacidade de comunicação do indivíduo. Podem também ocorrer zumbidos, que são ruídos, produtos da distorção sonora desses grupos de células lesionadas.

Alguns tipos de surdez podem ser melhorados com o uso de aparelhos auditivos. Existem modernos aparelhos digitais, pràticamente invisíveis, e também próteses parcialmente implantáveis no ouvido médio, num crescente desenvolvimento da microeletrônica e superação da inteligência humana.

No entanto, não há tratamento para o que já se perdeu. Há tratamento preventivo, e isso é diretamente relacionado a avaliar e melhorar o aporte sanguíneo às células nervosas pela microcirculação.

Existem 3 pontos que devem estar 100% em dia:

  • A circulação geral deve ser sempre avaliada com check-up clínico-metabólico-hormonal próprio para a idade. Atenção especial deve ser dada à circulação cerebral, que pode ser avaliada (doppler carotídeo/vertebral à critério clínico) e estimulada com medicamentos.
  • A coluna cervical, por onde transitam os grandes vasos (artérias vertebrais) que vão irrigar a parte posterior do cérebro e os ouvidos internos, é outra área de importância. A compressão desses vasos por artrite ou artrose pode causar deficit circulatório, mas só ligamos para a coluna quando há o componente dor, pelo pinçamento de um nervo. A coluna cervical deve ser sempre avaliada, e exercícios específicos (alongamento) e diários devem ser recomendados pelo especialista.
  • O stress deve ser exteriorizado com atividades físico-recreativas rotineiras. As duas doenças que ocorrem em paralelo ao stress, a “preguicite aguda” e “eu não tenho tempo” (para mim mesmo), devem ser eliminadas.

Portanto, o tratamento preventivo consiste na boa avaliação e aconselhamento pelo otorrinolaringologista e da atuação de equipe multidisciplinar ( clínico geral, cardiologista, reumatologista, ortopedista, oftalmologista, neurologista, angiologista, …) conforme o caso. Todas as funções nervosas (audição, equilíbrio, visão, memória, raciocínio …) são igualmente beneficiadas com esse tratamento, permitindo que o indivíduo tenha uma terceira idade sadia.