A situação anatômica do conduto auditivo externo, associada a diversas outras condições, predispõe a ocorrência de diferentes problemas, cujo conhecimento é, sem dúvida, do maior interesse de todos.

O ouvido externo é um canal ligeiramente sinuoso, com 2,5 a 3 cm de profundidade, cuja principal função é a de concentrar as ondas sonoras sobre a membrana timpânica, além de proteger as demais estruturas nobres da audição. É constituído por um arcabouço ósseo e cartilaginoso, forrado por pele que, mais grossa e resistente na parte externa do canal, vai se tornando fina e frágil à medida que se aproxima da membrana timpânica.

A pele que forra o ouvido externo está sempre se renovando e, para que não se acumule, existe um mecanismo de auto-limpeza onde, através de um movimento migratório, essa pele e outras impurezas são expulsas.

Na porção externa do conduto auditivo existem glândulas de gordura modificadas, produtoras do cerume. A chamada “cera do ouvido” tem funções específicas muito importantes, pois, criando uma camada impermeabilizante, protege a pele do canal contra a agressão de germes e outros agentes irritantes.

Logo, vimos que o ouvido se limpa sozinho e que cerume não é sujeira! Cabe nesse ponto uma orientação de não se introduzir no canal objetos como cotonetes, grampos, lápis, tampas de caneta, cabos de pente, entre outras coisas, com o intuito de limpar ou coçar. Ao contrário do que se pensa, essa “falsa limpeza” remove a camada de cera protetora e causa feridas e escoriações na pele, facilitando a instalação de processos infecciosos. Isso, sem falar no perigo de causar danos maiores à membrana timpânica e ao ouvido médio. A higiene do ouvido deve ser feita apenas externamente, ao nível do pavilhão auricular, com o auxílio da toalha ou lenço de papel. Num canal auditivo normal, aquela sensação de umidade que persiste após o banho tende a passar naturalmente.

O acúmulo de cerume no ouvido pode ocorrer devido à secreção excessiva, situação em que o mecanismo de auto-limpeza não consegue superar o da produção, ou pelo uso inapropriado de cotonetes, o que empurra para o fundo do canal o cerume que seria expulso pelo organismo. Esse acúmulo pode provocar, além da diminuição da audição, retenção de água no ouvido e criar campo para infecções.

Já outras pessoas têm a produção de cera diminuída, determinando ressecamento e descamação da pele em flocos, o que se acompanha, em geral, de coceira de caráter persistente. A ação de agentes irritativos (álcool, cloro das piscinas e outros), alergia de contato (tinturas, cosméticos, derivados de borracha e outros), dermatites (eczemas, seborréia), intolerância a medicamentos instilados nos ouvidos, deficiências vitamínicas e endócrinas, podem estar associadas à baixa produção ceruminosa, o que predispõe à agressão da pele do canal por germes oportunistas.

Assim, as condições que alteram a normalidade fisiológica do canal auditivo externo possibilitam a ação de fungos e bactérias, criando uma situação conhecida por “otite externa”. Esta se caracteriza, em graus variados, por inchação local, obstrução da audição, corrimento aquoso, coceira e, principalmente, dor. Quando as glândulas da porção externa do canal são comprometidas, ocorre a formação de furúnculos, muito dolorosos nessa região.

O tratamento deve ser instituído imediatamente, no sentido de aliviar a sintomatologia. A primeira medida a ser tomada deve ser a limpeza do canal auditivo sob a visão direta do especialista. Essa limpeza remove os restos epiteliais que impedem a ação medicamentosa, abreviando o tempo de cura. Em seguida, deve ser prescrita medicação sistêmica e/ou local. O uso de gotas auriculares deve ser descontinuado tão logo seja possível, pois o ouvido não pode retornar a um estado fisiológico normal enquanto nele são introduzidas substâncias estranhas.

As causas predisponentes locais e gerais devem ser apuradas e eliminadas ou controladas, visando evitar a recidiva do processo inflamatório.

Os praticantes de esportes aquáticos, estando sujeitos à ação de agentes irritativos, são, por isso mesmo, mais suscetíveis à otite externa. Com essa desvantagem, devem afastar-se ainda mais de outras causas predisponentes e manter os dedos e outros objetos longe dos ouvidos! Diz-se que “os ouvidos devem ser coçados apenas com a ponta dos cotovelos”!

Além disso, muitos frequentadores de piscinas, atletas ou não, fazem uso indiscriminado, ou pelo menos desnecessário, das chamadas “borrachinhas” ou tampões moldados de silicone. Esses obturadores, quase sempre utilizados por recomendação de “amigos” ou “vizinhos”, podem também concorrer para a irritação da pele do canal auditivo.

Portanto, na presença de problemas com o seu ouvido, principalmente se eles são de repetição, procure o seu Médico. Só ele poderá dar a melhor orientação.